Já abordamos essa questão do silêncio algumas vezes. Desde que começaram a estudar o tema, nossos pesquisadores ainda não conseguiram esclarecer uma situação, na verdade, uma verdadeira queda-de-braço entre o silêncio e a palavra.

Do lado do silêncio, a tropa de choque é numerosa: filósofos, sábios, religiosos, padres, gurus, ascencionados os mais diversos que pretendiam e pretendem com seu exemplo mostrar e demonstrar que a maior das conquistas humanas – a palavra – só ganharia uma corrida em último lugar. A alegação dessa gente é que a palavra é a grande responsável pela loucura humana, a verdadeira causadora de tudo que é tipo de infortúnio, de um simples mal entendido entre irmãos até enormes mal entendidos entre irmãos, como a guerra, os morticínios, a escravidão.

Nossos pesquisadores puderam apurar que o silêncio funcionaria como uma espécie de água para baixar a fervura. Assim toda vez que o colega-traíra do serviço critica todo mundo e todo mundo reage e cria-se um clima nada amistoso, nesse momento entra em cena a turma do deixa-disso, separando quem está se engolfinhando, pedindo moderação a todos, que vão se aquietando, aquietando, aquietando, cada um indo para sua mesa, para seu espaço de insignificância, reclamando internamente, enraivecido internamente, mas de boca mais fechada que segredo que não existe, mas a mente a mil continua mais ativa que fofoca entre vizinhos, que crítica pelas costas entre colegas que mal se toleram – nesses casos, nossos pesquisadores estudam se não estaria havendo uma intromissão indevida em campos que não lhe são próprios. Assim: para evitar, em um primeiro momento, que todos se matam, que todos joguem o outro pela janela, ok, tudo bem com o silêncio, tudo bem com a quietude, tudo bem com o mutismo – mas, depois desses segundos iniciais, não seria o caso de usar instrumentos e mecanismos e procedimentos mais agudos e de fato capazes de resolver de maneira mais efetiva e duradora as pendências que o silêncio prentesiosamente tentou resolver, não fazendo nada de efetivo para isso?

O silêncio merece perdão por tamanha pretensão? Só a palavra poderá dizer.