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Silêncio não é o estado imediatamente anterior antes da palavra começar seu trabalho diabólico, nem o estado imediatamente posterior depois que a palavra desligou sua metralhadora giratória

Psiu, quietos: nossos pesquisadores estão pensando na melhor maneira de elucidar esse Aforismo. Sério, não é brincadeira: como sempre, nossos pesquisadores, interessados em abordar cada Aforismo da forma mais produtiva possível, eles pensaram se não seria o caso de ficarem quietos, em total silêncio e recolhimento, para perceber se, nessa condição, não seriam assim agraciados com um estado mental e cognitivo que permitisse que eles percebessem o que ninguém havia percebido até então. E, olha que não faltou filósofo, pensador, palpiteiro, sábio, religioso, tudo que é gente julgando ser o melhor intérprete possível desse fenômeno tão desafiador como o silêncio. Até quando abriram a boca, nossos pesquisadores falaram coisas do tipo: que o silêncio é meio que coisa assim de Deus, que, por isso, seria imitado a não mais poder, principalmente por todos aqueles que, ficando na moita e na encolha, não abriam a boca para nada, em qualquer assunto da natureza humana, inumana, cosmológica ou cosmética: política, economia, sociedade, comportamento, roubalheira, criação de filhos, condição sexual de primatas, peludos ou não muito peludos, corrupção na história humana, jogo de biriba e por aí segue a conversa.

E enquanto eles ainda conversavam, falaram que o charme e o apelo do silêncio, mesmo que sobre assuntos os mais diversos, deve-se a uma situação muito específica: não abrir a boca diminui enormemente a possibilidade de erro (mas não a elimina totalmente, porque, como sabemos, mesmo calado o homem – não todos, mas quase – está errado, imagina então se abrir a matraca). Essa situação é tão, mas tão admirada que foi alçada em praticamente todas as culturas à condição que a aproxima da santidade e da sabedoria, o que vale para os que supostamente atingiram essa situação e a quase totalidade dos outros que querem se igualar a quem não abre a boca para não chamar a atenção de nenhuma mosca.

Em nossa última tentativa de arrancar alguma palavra dos nossos aquietados pesquisadores, fomos surpreendidos com um tradutor de Libras gesticulando. Pelo que pudemos entender ele pedia encarecidamente para que eles voltassem a fazer da palavra a mais fiel tradutora da maluquice humana.

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