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Ter amigos é reconfortante. Ter inimigos é estimulante

Como muitas vezes você lerá, nossas pesquisas partem frequentemente de constatações óbvias, cotidianas. Assim, todos sabemos que amigo é aquele sujeito que você deve procurar sempre que quer um elogio; sempre que seu ego está embaixo de uma sola de sapato; sempre que você se sente o último biscoito (pode ser bolacha) do pacote, esquecido há dois meses na prateleira, amolecido; sempre que a sua mulher acha alguém mais interessante que você (torça os dedos para não ser o seu amigo); sempre que seu chefe te coloca de lado na hora da promoção (torça os dedos para que o promovido não seja o seu amigo, porque aí a amizade vai para o vinagre). Nesses e em tantos outros casos, o velho e bom ombro amigo é o que a sociedade tolera para substituir o colinho da mamãe.

Mas, a vida não é só feita da água com açúcar da amizade, porque também sabemos que o excesso de açúcar fará com que você possa no futuro acusar seu amigo de tê-lo induzido a uma espécie de diabetes existencial. Aí, para você continuar vivo terá que consumir doses crescentes de insulina e é pouco provável que seu amigo ajude a custear o mal que ele ajudou a causar.

Para combater esse perigo que é deixar o sangue melado, e fazer de você um sujeito meloso, é que existem os inimigos. Nossas pesquisas não deixaram dúvida: um inimigo melhora sua circulação sanguínea de ataque, tonifica seus músculos, ajuda na disposição geral, seu corpo fica mais rígido. Além desses benefícios, há outros, de ordem psicológica e existencial: um inimigo deixa você mais alerta, te obriga a ser mais esperto, refina sua percepção, aguça sua capacidade de reação, estimula sua inteligência, movimenta suas capacidades estratégicas.

Como todos sabem, é impossível se defender de um elogio, mas de um ataque, de um soco, de um empurrão, de uma crítica, de um achincalhe, de uma observação cáustica, de um xingamento, de uma vaia, de um impropério, de uma acusação – ah! nada como um inimigo para nos fazer sentir mais vivos do que nunca!

Vamos falar a verdade: se a conversa for a saúde, um inimigo atuante não tem vantagens óbvias sobre um amigo complacente?

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