Afinal, e de uma vez por todas (o que nunca acontece, porque sempre tem novidade): é possível conhecer o que nunca foi conhecido anteriormente? Em outras palavras: só seria possível reconhecer, não conhecer? Mas, então, como começaria o conhecimento?
Leitor, não pense que estamos delirando. Isso é muito sério. Basta você fazer uma experiência muito simples, na vida do dia-a-dia. Ofereça um prato diferente ao seu amigo-traíra do escritório, uma comida que ele nunca comeu, nunca experimentou antes – claro que estamos supondo que você vai oferecer uma comida “normal” mas que ele não conheça, não estamos supondo que você fará a maldade de oferecer um delicioso ensopado de estricnina com enxofre.
Então, digamos, você oferecerá a ele um tipo de lasanha que ele nunca comeu, com um molho diferente, textura diferente da massa etc. Como você acha que o traíra vai reagir? É bem provável que ele não goste, estranhando um prato que, mesmo tendo o mesmo nome com o qual ele está acostumado, tenha gosto diferente. Assim, ele acabou de perder mais uma oportunidade de ampliar seu-dele leque culinário. Agora, vamos supor que essa experiência tivesse sido feita há uns, digamos, 50 anos atrás, e que a família-traíra tivesse adotado esse prato. Com o passar do tempo, não haveria maiores surpresas, salvo uma pequena mudança aqui, outra ali, de tal forma que 50 anos depois, o que foi uma novidade, hoje não é mais. Nada de estranhezas e estranhamentos.
Voltemos agora ao presente. Vamos supor que o traíra inesperadamente aceitasse a sugestão do novo prato, provasse e, mesmo estranhando, acharia interessante e prometesse provar mais vezes, sabe como é?, para ir-se acostumando ao novo paladar. Pela lógica desenvolvida aqui, isso significaria que os filhos-traíra e os netos-traíra aceitaram não mais o novo prato, que de novo não teria nada, mas já teria se incorporado à culinária da família-traíra. Se estivermos certo, isso significa que um novo conhecimento até aparece, mas até ser incorporado … haja tempo. Por que é tão difícil aceitar o novo, e suas inúmeras novas possibilidades? Por acaso o amigo-traíra lá do futuro estranharia uma lasanha de paçoca que tivesse sido desenvolvida hoje e já estivesse incorporada ao paladar desde então?
Eita desenvolvimento à base de uma tartaruga com lexotan na cabeça!
Reprodução permitida, desde que citada a fonte. Caso contrário vamos soltar os cachorros em cima do infrator. ;-)
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