Sempre que o estudo de um Aforismo exige ou sugere uma colocação como a do título acima, nossos pesquisadores são criticados: seríamos uns poetas frustrados (verdade, em parte), ou linguistas idem (verdade, em parte), ou gramáticos idem (verdade, em parte). Mas, em nossa defesa, garantimos que esse é um dos assuntos mais solicitados para esclarecimento.

Como nossos pesquisadores não gostam de moleza, começaram a pesquisar esse tema tendo em mente a ideia de que, segundo diversas tradições religiosas, a vida é algo muito simples, que certo tipo de gente (gente como nós, os Canis & Circensis) só querem mesmo é complicar, querem mesmo dar uma de soberbos, afrontando o reto entendimento do que é simplesmente simples.

E, do mesmo modo que a vida seria simples, e de entendimento simples, o mesmo aconteceria com tudo que constitui a vida: amores, decepções, política, economia, roubalheira, corrupção, filhos (dentro e fora do casamento), traições, amantes, sexo (todos de uma lista que não para de crescer) natureza, religião, espiritualidade, aposentadoria, dor de dente, joanete, unha encravada, queda de cabelo, investimento público, tsunamis, erupção de vulcão adormecido há séculos, agrotóxicos, receita de frango com quiabo, morte de milhares de andorinhas, invasão em outros países e invasão de outros países, queda do dólar, mineração ilegal, caça aos leões, fazendas de criação de salmão com aditivos proibidos, exploração ilegal de madeira, exploração infantil, mercado de créditos de carbono, implantação de chip para controlar maluco e para controlar a vida de maluco controlado, o preço do pãozinho e da moela, especulação imobiliária e financeira, adulteração de documentos para pagar menos imposto, invasão de terras de povos originários para beneficiar a todos (começando pelos povos originários, esses ingrato), com a exploração de recursos naturais, que, sendo naturais são de todos, rotação da terra em torno do Sol, movimentos planetários, influência (ou não) de ciclos astrológicos na decisão de um executivo na hora de assinar um contrato milionário, se você está certo em colar na prova para passar de ano, se as urnas eletrônicas são confiáveis, se pensar vale a pena, se rezar é melhor que sair por aí questionando tudo e todos, se o correto é arroz com feijão (ou feijão com arroz ou ainda arroz e feijão, lado a lado) se catraca de canhão é alternativa para um conhaque de alcatrão, se imigrante deixa de ser humano por ser imigrante ou … ou … ou … ou … ou … ou … ou … ou … ou … enfim tudo, e de tudo um pouco (ou pouco não é tudo, e se não é for inteiro a metade ou a fração que form não vale de nad).

Percebeu, leitor, como tudo é simples e de simples compreensão, fácil assim? Sem a menor necessidade de porquês (junto ou separado)?