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Vida com consciência é tão saudável
quanto comida orgânica, e tão saborosa quanto

Ninguém quer passar por burro, cretino, idiota. Menos ofensivamente, ninguém gosta de passar por uma pessoa leviana, sem conteúdo, mal informado, que não tem o que falar, que não tem nada a dizer. Todos querem parecer inteligentes, sensatos, equilibrados, espertos. Se resumíssemos em uma palavra: conscientes. 

Nossos pesquisadores apuraram que a consciência é daquelas palavrinhas meio abracadabras, um tanto mágicas: a consciência parece reunir em uma medida justa a inteligência, a percepção, a capacidade analítica, a capacidade de antecipação, a generosidade analítica, entre outros tantos predicados. Ser consciente é ser capaz de perceber as coisas como elas são. É ser justo ao considerar o que há contra e o que há a favor de alguma ideia ou situação. Se a inteligência teria parte com o Coisa Ruim, a consciência pertenceria ao espectro divino, seria uma capacidade vinda das forças positivas superiores – a consciência nos aproximaria de Deus e dos nossos irmãos.

A falta de consciência, ao contrário, faria de nós seres indignos da evolução que nos trouxe até aqui. Ser in-consciente, ou não-consciente, revelaria falta de capacidade de entender o que está acontecendo no mundo.

Apesar de gozar de tanta popularidade, nossos pesquisadores apuraram que a consciência parece sofrer de uma limitação impeditiva de uma vida social mais divertida, por assim dizer. É assim: a pessoa consciente seria, por ser consciente, chata, sim, chata, estraga-prazeres. Seria aquela pessoa que justamente quando a festa está pegando fogo, quando as duplas (trios, quartetos, quintetos, sextetos etc.) estão se entendendo, suspende o fornecimento de bebidas (outras eventuais substâncias alteradoras da consciência também teriam seu fornecimento suspenso), corta a música e manda todo mundo para casa. A justificativa? As coisas estariam saindo dos eixos, estariam indo longe demais, podendo gerar consequências imprevistas, arrepiando valores, conspirando contra o andamento correto das coisas – uma festa tão animada e saborosa quanto um chá da tarde da liga das senhoras pudicas.

Consciência então seria bom de falar que se tem, mas na hora de colocá-la em prática ela mostraria sua verdadeira face, a de uma grandissíma chata de galocha?

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