Não é novidade para ninguém que a vida, se não for um mar de lágrimas, não está muito distante disso. Essa informação está presente nas mais antigas tradições de pensamento, o que faz pensar todos que pensam que parece ter havido uma espécie de ressonância, um eco, em que todos repetem o que é interessante para todos repetir – afinal, nada como uma dificuldade para vender uma facilidade.
Essas mesmas tradições juram porque juram de pé junto que esse mar não precisaria ser de lágrima, porque lágrima, que até poderia ser fruto de alegria (nascimento de um filho, por exemplo) é, nesse caso, fruto de descaso do homem para o entendimento que o faria sim é chorar por ignorância mesmo.
Ok, pensaram nossos pesquisadores. Se a conversa é sobre a falta de entendimento, sobre ignorância, cabe perguntar: falta entender o quê? O que se ignora? O que deveria ser entendido para que não mais chorássemos lágrimas de sofrimento? O que não mais deveria ser ignorado para evitar lágrimas tão amargas e salgadas?
Nossos pesquisadores são, como diz o nome, pesquisadores, gente séria, não somos futurólogos, nem leitores de bola de cristal, nem decifradores de códigos abstrusos. Mas (e tem sempre um mas, pelo menos), por que as coisas se passaram como disseram que se passaram quem disse que as coisas assim se passaram? Se tem na vida sofrimento e dor, tem também alegria e amor. Então, porque a escolha recaiu justamente naquela primeira duplinha acima? Não está parecendo coisa de vendedor? Sabe daquele tipo que fala assim: ‘ainda bem que você me encontrou, sorte sua!’. Mas, como dizíamos, se a opção tivesse sido pela alegria e pelo amor, situações reconhecidamente mais contagiantes, ao contrário do sofrimento e da dor, situações reconhecidamente mais ensimesmadas e ensimesmadoras, aí a turma iria colocar o bloco na rua, aprender a colocar o bloco na rua, aprender a viver como se vive em um bloco na rua. Nesse situação, as lágrimas seriam outras, e haveria outros líquidos humanos, suores de corpos em um bloco na rua.
Não teria sido mais interessante, leitor? Mas muita gente sairia perdendo com a festa – e aí?
Reprodução permitida, desde que citada a fonte. Caso contrário vamos soltar os cachorros em cima do infrator. ;-)
Canis Circensis – Copyright 2024 – Políticas de Privacidade