Inteligente bem informado que é, não será para você, leitor, que nós precisaríamos explicar o que significa quinta coluna. Explicamos para o seu colega, o traíra. Então, traíra, é uma expressão que é considerada como uma traição, mas uma traição particular, porque é caracterizada como a traição que é urdida por um grupo de pessoas que atuam na moita, na surdina, clandestinamente, com a intenção de trair os seus companheiros, sua pátria ou a organização da qual fazem parte – aqui é que está a encrenca: não são gente de fora, mas de dentro. Sabe aquela gente-traíra, cheia de caras e bocas, simpática até o último fio de cabelo, gracinha que só, mas (e sempre tem um mas, pelo menos) na real gente com alma-traíra, com alma de traíra, gente que com certeza está com uma faca guardada, à espera de pular no seu pescoço, e enquanto isso não é possível, faz como fazem todos os agentes secretos do mundo: vão te dando corda, vão estimulando que você abra boca e seu coração, mas sobretudo para que você, falando, mais cedo ou mais tarde, vai acabar dando com a língua nos dentes, vai acabar passando alguma informação estratégica, ou ao menos importante, e você, bobinho e ingênuo, nem vai se dar conta, ao contrário, vai continuar falando isso e aquilo e aquilo outro, que as coisas são assim e tal e coisa…e você falando pelos cotovelos, considerando que está conversando com um amigo, ou, se não um amigo, ao menos com um cara legal, de bom papo, sujeito simpatico, bem apessoado, e ele só ouvindo, só dando corda, só abastecendo o duas-caras com alguma informação que talvez tenha faltado.

Depois dessa explicação que se fez necessária para esclarecer o amigo-traíra, podemos retomar o estudo do Aforismo. A proposta de nossos pesquisadores é simples: tentar entender quem ou o quê estaria conspirando contra a justa tentativa de qualquer mortal querer viver a vida com dignidade, de querer o melhor para si e para os seus, de desfrutar os poucos minutos que uma vida têm, prazeirozamente, alegremente, sem pesos desnecessários, sem encucações e culpabilizações que não levam a lugar nenhum, que só fazem o que querem que façam quem manda no mundo: nos deixar doidos.

A resposta está na formulação do próprio Aforismo, em cima.