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A autossuficiência é o único caminho
que resta para fazer frente à necessidade

Quem o homem é um ser necessário, não há dúvida. Bem entendido: por necessário entenda-se um ser repleto de necessidades, cheio de buracos mais que vazios, impreenchíveis, um sem-fim de eu-preciso-disso-daquilo-e-de-tudo-mais. Em outras palavras, quase um ser totalmente desnecessário para a vida como um todo. Um ser que, em troca de nada, quer tudo de volta, que julga ser de pleno direito.

Nessa linha de raciocínio e reflexão, e em função do nosso dever de sempre para com a verdade e para com você, leitor Canis&Circensis, só nos resta especular que, para deixar de exigir tudo dos outros e nada de si; para deixar de achar que é o rei da cocada preta; para deixar de achar que é a última bolacha do pacote; para deixar de achar que é o suprassumo de alguma coisa qualquer que seja, em uma palavra, para deixar de encher o saco de todas as outras formas de existência, então, que o homem que se baste a si mesmo, preferencialmente longe de tudo e de todo mundo, para, assim, despoluir o ar, a água, a atmosfera, o planeta, a vida, a existência, deixando campo livre para que possam viver todos aqueles que têm alguma coisa para dar ou trocar no comércio da vida.

Caso isso acontecesse, bem entendido: se o homem tivesse a coragem e a dignidade para tomar essa decisão de viver por conta e risco próprios, há um risco embutido, que temos que abordar. Considerando o histórico do homem, não seria nada-nada difícil que ele quebrasse a cara; que desse com os burros n’água; que metesse os pés pelas mãos. Mas, com a coragem e a dignidade que lhe são peculiares, ele, que jamais reconheceria sua derrota, ainda daria um jeito de capitalizar a situação em benefício próprio: diria que foi alvo e objeto de injustiças as mais vis e repugnantes; que foi abandonado à própria sorte; que foi rejeitado e deixado de lado. Assim, ele teria, do próprio ponto de vista, mais que o direito de exigir reparação e sobretudo compensação. Em outras palavras, voltaria tudo como era antes: jogando a autossuficiência pelo ralo, ele voltaria a passar o chapéu, ou o pires, e faria da sua necessidade particular e específica uma conta ser devidamente paga por todos, por todas as outras formas de vida.

Eita serzinho imprestável!

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