A esta altura, você, leitor, já deve ter-se acostumado com a maneira, podemos dizer, pendular com que os problemas são aqui apresentados. Isso tem um porquê: parece-nos que as coisas são assim na vida. Ou elas estão aqui, ou estão lá. O que não está aqui nem lá, está tentando se encaixar aqui ou lá. Essa percepção faz com que nossos pesquisadores tenham uma espécie de faro desenvolvido para perceber onde a resposta não está. Você leu certo: onde a resposta não está, e não onde está a resposta (que a gente nunca sabe onde está). Assim, eles ficam sempre com a pulga atrás da orelha quando ouvem uma resposta com cara de desculpa esfarrapada; uma resposta que empurra a questão com a barriga; uma resposta que não se conforma em não saber; que não quer ser chamada de orelhuda; que não tem a humildade de se revelar ignorante.
Veja o caso deste aforismo: afinal, é a mente que movimenta as coisas ou são os pés velhos de guerra e cheios de calos os responsáveis pelo movimento? Perguntaram eles (como de hábito) a pessoas das mais variadas origens, classes sociais, religiões, times de futebol, orientação sexual etc.
A ideia por trás da pesquisa era entender como a evolução faz um trabalho de gente grande; como demora bilhões e bilhões de anos para chegar à configuração do homem na qual a mente pensa e o pé caminha e, mesmo depois desse trabalho insano para dar a cada órgão uma função específica, pode haver gente que sustenta a ideia de que sai do lugar mesmo com os pés mais parados que bicho preguiça baiano e que na verdade colocar os pés em marcha nem chega a ser necessário, porque a mente está levando nosso bicho preguiça para bem longe de Salvador, agora mesmo, por exemplo, ele pode estar em Bali, no Nepal ou Katmandu – nossa pesquisa não incluiu saber se, para chegar a esses lugares, teria havido consumo de substâncias que deturpam a percepção de tempo e espaço, mas tão logo acabe essa viagem, iremos verificar se a resposta tem algum sentido ou se a mente foi tratada como pé enquanto este continuaria refastelado em uma deliciosa rede de dormir.
Reprodução permitida, desde que citada a fonte. Caso contrário vamos soltar os cachorros em cima do infrator. ;-)
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