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De longe é diferente de perto

Nossos pesquisadores estavam interessados em entender melhor um ditado que diz que, vistas de longe, as coisas parecem comédia; vistas de perto, parecem tragédia. Questão de medida, portanto. De medida ou de bom senso, perguntaram-se eles? Afinal, se a mesma coisa pode ser vista de duas maneiras completamente distintas, uma divertida, a outra, pesarosa, por que escolher justamente a segunda? Por que o ser humano não escolheria a maneira mais leve de ver as coisas, preferindo a esta a maneira trágica?

Adotando, portanto, essa linha de apuração nossos pesquisadores procuraram aplicar o dito do aforismo acima em diversas situações da vida prática. Uma delas, a política. Assim, vista de longe a corrupção seria menor e, vista de perto, aumentaria de tamanho, mesmo que a dinheirama desviada fosse exatamente a mesma. O mesmo aconteceria em se tratando do partido corrupto: mais corrupto se visse a questão de perto (quer dizer, se você fosse de oposição a este partido e teria olhos de lince em cima do que ele faz), menos corrupto se visse a questão de longe (quer dizer, se você sofresse de uma terrível miopia).

Em relação à honestidade, a questão seria assim: aquele mau caráter do seu colega de serviço não seria assim tão traíra se você o visse, digamos, só duas vezes por semana, meia hora por dia quando muito; mas, se voltasse a trabalhar na mesma sessão em que ele te colocou para fora no ano passado, e como assistente dele – aí a desonestidade dele iria lá para cima (lembre-se de que ele está lendo esse mesmo aforismo, então, a honestidade e a trairagem dele passariam a ser suas).

No amor, nossos pesquisadores apuraram o seguinte: de perto, as mulheres é que amam, o que nem de longe é o caso dos homens; estes, quando se fala de proximidade, têm em mente coisas lúdicas, recreativas, prazeirosas. As mulheres preferem distâncias curtas, curtíssimas, sempre que é o caso de discutir a relação – quer dizer, sempre. Nesses momentos, os homens estão para lá de Marrakesh.

Nossos pesquisadores estão se perguntando o seguinte: mas, se a distância muda a percepção, muda também a realidade?

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