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Desde que não se diga nada, pode-se falar (de) tudo

Você tem interesse em serviço secreto? Então, leia este aforismo. Não?! Pois então esse aforismo é de leitura obrigatória para você.

A formação de um membro de um serviço secreto é longa, rigorosa e os custos para formá-lo só podem ser suportados com os impostos que a população é obrigada a pagar em nome da segurança nacional, expressão que justifica a paranóia que o governo colocou na sua cabeça de achar que um ser humano como você, mas que tem o RG de outro país, vai roubar sua mulher, tomar sua casa e beber sua cerveja. Vamos chamar esse membro do serviço secreto de espião. Entre as muitas técnicas que um espião deve dominar, uma chama a atenção: ele deve aprender a falar horas e horas e não dizer rigorosamente nada que preste, principalmente quando estiver falando sobre temas sérios. Mas o palavrório todo tem um objetivo maquiavélico: falando horas a fio, o espião conquista a amizade do seu interlocutor, de quem pretende tirar alguma informação. Depois de ouvir horas e horas de conversa mole, o desavisado, ouvindo o espião falar com desenvoltura sobre política, futebol e religião (os três temas que todos dizem que não se discute), acredita que está conversando com um sujeito informado e bem intencionado e acaba dando com a língua nos dentes.

Incomodados com o fato de o cidadão ter de pagar por isso, nossos cientistas resolveram pesquisar se não haveria uma maneira mais barata de treinar os espiões. Ficaram de ouvidos abertos e boca calada em filas de ônibus, botecos, casas de família, postos de saúde, enfim, em locais onde as pessoas ficam por muito tempo e, sem ter nada de útil para fazer, disparam a matraca.

Não foi nada difícil para os nossos pesquisadores apurarem muitos relatos de pessoas que, com aquela cara de quem não quer nada, conseguiram informações que pareciam estar procurando. Um desses relatos chamou nossa atenção: depois de discorrer longa e infindavelmente sobre seus programas de auditório preferidos, Dona Maroca finalmente obteve de Dona Dirce, sua vizinha, a confirmação de que o faxineiro é de fato amante da síndica, sua irmã.

Essa história fez nossos pesquisadores se perguntarem: será que os espiões estão apenas nos serviços secretos? E mais: não ficaria muito mais barato incluir no treinamento dos espiões horas e horas de programas de auditório? Quanto poderia ser o cachê de dona Maroca como coach de espionagem?

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