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Destruir-se é o jeito mais inteligente para destruir o sistema?

Então, tem uma hora que nada na vida parece fazer sentido. Não que antes fosse tudo às mil maravilhas, mas, enfim, os pássaros cantavam (mas alguns defecavam quando você passava), você andava pelas calçadas (mas algumas vezes metia o pé no marrom fedido), você saía todo dia do jeito que saía todo dia (mas tinha dias que você tomava chuva, também, vai confiar na bonitinha do tempo!), você passava de ano na escola assim raspando (tudo bem que você colava, mas quem não?!), você entrava e saía de empregos (também, um pior do que os outros), você tinhas umas namoradas ao mesmo tempo (mas, e quem não?, ninguém é santo), você não contribua com as despesas de casa todo mês (também, com os empregos meia-boca que conseguia!, até que ainda dava algum).

A vida comum vivida no seu dia-a-dia tinha lá seu sentido, estropiado, mas tinha. Até que, por um motivo qualquer, pode ser um desarranjo em qualque uma daquelas coisas que a gente faz tudo-sempre-igual, ou, quem sabe?, algum desarranjo cósmico, algum desalinhamento planetário, algum remelexo de estrelas, alguma competição entre asteroides para ver quem vai bater primeiro na Terra e acabar logo com tudo, mas antes que isso aconteça, os passáros já não cantam mais como cantavam (o cocô de pomba piorou), nas calçadas, o marrom está mais fedido, você se esqueceu de onde guardou o guarda-chuva bem na época das chuvas, emprego, mesmo ruim (porque bom não é), nem tem mais, e sem emprego, sem contribui para as despesas domésticas. Não se sabe bem o motivo, mas que você quer que algum asteroide ganhe logo essa corrida cósmica e bata de frente bem na sua cara, ah isso você quer. Só que nenhum o asteroide destruidor está a fim de contribuir para acabar com tudo. Restam os bares, a bebida, as drogas, as alucinações, a vontade cada vez maior de ser você o asteroide-exterminador. E essa ideia crescendo dentro, ganhando força e te fazendo cada vez mais obstinado e fraco. O pouco dinheiro que tem, está nas mãos dos agiotas financiadores dos seus vícios, mas o velho e bom (?) mundão de sempre está aí, mais indestrutível do que nunca, mais invencível do que nunca, mais inexpugnável do que nunca, parece defesa daqueles times de futebol do interior, butinada pra tudo que é lado. Se o mundão velho é cada vez mais o mundão velho, você é cada vez menos você, mas alguma coisa precisa ser feita para impedir que o mundão de sempre seja como sempre o mesmo e você acredita que um dia ainda fará o serviço que o asteróide-exterminador deveria ter feito, esse asteroide bundão.

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