O pequeno é capaz de entender o grande? O minúsculo é capaz de entender o maiúsuculo? O menor, o que entende do maior? O rasteiro, o que entende do alado?
Nossos pesquisadores se perguntaram: de que adianta estar diante de um conteúdo extraordinário (ao menos em princípio), mas não ser capaz de entendê-lo? Quando nossos pesquisadores se reuniram para estudar o Aforismo acima, um deles se recordou de suas aulas de Fìsica quando, incapaz de entender uma única explicação sobre o movimento da energia, dirigia seu olhar para a janela, mirando o céu lá fora. Questionado pelo professor, para que prestasse atenção à aula, saía-se com essa: “Mas, professor, eu estou olhando diretamente para onde tudo acontece!” Ao que o professor perguntava: “E o que você está vendo?” Resposta: “Nuvens, céu azul, Sol …”. E o professor, de novo: “Mas você entende o que você está vendo?”
Pronto. Foi só ele relembrar essa história de seu tempo de estudante que a reunião dos pesquisadores entrou em polvorosa. O mote: o que eu (você, qualquer pessoa) entende de qualquer assunto representa quanto do assunto em si?
“Metonímia” – falou um dos nossos linguistas, “tomar a parte pelo todo”. Assim, como o homem poderia entender algo que fosse incapaz de compreender? Principalmente se o assunto for muito complexo e difícil.
Se essa línha de pensamento estiver correta, o homem não entenderia como qualquer coisa seja, mas entenderia dentro dos seus limites de conhecimento, e por mais que se esforçasse para e por superar-se o entendimento de alguma coisa se daria extamente dentro dos limites de conhecimento que o homem tem, nenhum um milímetro a mais.
Se pensarmos que o homem se intitula o mais fiel entendedor de Deus, a que entendimento ele se refere: na melhor das hipóteses ao conhecimento dado pelo seu limite de conhecimento, e olhe lá!
“Como Deus ficou pequeninho!” – cochicharam entre dentes nossos pesquisadores menos limitados!
Afinal, quem imita quem: a arte imita a vida, ou a vida imita a arte?
A quem caberia a palavra final, ou ao menos uma palavra mais categorizada para definir o que é a nossa própria condição de viventes?
Nossos pesquisadores partiram de uma constatação do senso comum: a vida sangra, bate, corrompe, exige o tempo todo. A arte – bem, tem arte que é sangue mesmo, mas tipo assim de mentirinha, sangue diferente de quando alguém toma um tiro ou uma facada, ou quando, mesmo sem sangue, a gente se sente dilacerar por dentro, como quando morre um ente querido. Nesses casos, a arte é uma mão na roda, porque ajuda a suportar o que, sem ela, seria insuportável.
Por outro lado, nossos pesquisadores especularam que bem que a vida precisa mesmo de uma situação para atenuar suas agudezas, uma espécie de air-bag existencial contra choques e colisões – haja maldade dessa vida! Às vezes, a maldade é tanta, que a arte não representa apenas algo como (dependendo do gosto de cada um) uma lata de leite condensado, um copo de cachaça, um acalento de mãe, um momento de elevação existencial (mas, pesando bem, o que não é elevado em relação à nossa vidinha do dia-a-dia de boletos sempre vencidos, de amores que não se dão, de traições por todo lado, de facadas pelas costas, de ingratidão de fornecedores, cliente e principalmente de amigos).
Diante de um quadro tão precário como esse, não é à toa que tem muita gente que faz da arte a sua vida. Não nos referimos somente a artistas, quer sejam esses músicos, poetas, pintores, escultores e suas infinitas versões modernas. Para poderem respirar um ar não tão poluído quanto o da vida, aqueles e outros de tendência artística, simplesmente gente que chama urubu de meu louro, eu, você, quase todos nós, preferimos tentar respirar o ar que a arte nos fornece.
O oxigênio pode não ser de verdade, mas de mentirinha também se vive, concorda?
Reprodução permitida, desde que citada a fonte. Caso contrário vamos soltar os cachorros em cima do infrator. ;-)
Canis Circensis – Copyright 2024 – Políticas de Privacidade