Dia normal no escritório: seu amigo-traíra aprontando como sempre, passando todo mundo pra trás, mas, como sempre tem um que serve de cristo pra tudo, lá vai ele enfernizar a vida do desinfeliz. Que, aliás, acostumou-se a esse papel com um grau de domínio na técnica de ser passado para trás, que frequentemente antecipa o fato de que será passado para trás, mesmo porque se não fizer isso o amigo-traíra pode ficar nervoso e aumentar a trairagem.
Claro que todo mundo no seu escritório de gente de alma ausente e vontade nula estranha não apenas a obsessão do amigo-traíra em perturbar a vida do desinfeliz, fazendo dele gato-e-sapato, mas porque esse não tenta ao menos uma reação, um esboço que seja? A situação chega a um ponto em que parece que um não vive sem o outro, mas, ao analisar essa situação nossos pesquisadores começaram perguntando-se pela contemporaneidade das reações de quem manda com as reações de quem é mandado.
Mandar e obedecer é como bacalhau-com-vinho?
Mandar e obedeceer é como goiabada-com-queijo?
Dominador e dominado são as duas caras-metades da dominação?
Será que o dominado não seria o terreno mais que fértil e propício para a dominação do dominador, a ponto de que, fosse outro o dominador, a dominação continuaria a mesma porque dominado é dominado mesmo (não importa por quem)? Algo assim como ser dominado seria assim uma forma de ser, de viver.
Desse ponto de vista, o amigo-traíra-do-escritório não fica assim tão traíra e quem passa a ser odiado é o dominado que se deixa doce e docilmente se dominar.
Vida mansa a do amigo-traíra, não? Um dominado sempre à disposição!
Reprodução permitida, desde que citada a fonte. Caso contrário vamos soltar os cachorros em cima do infrator. ;-)
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