Você sabe que não deveria continuar bebendo tanto assim. Sua mulher sabe que não deveria continuar se expondo diretamente sob o Sol pra lá de escaldante por 5 horas seguidas. Sua filha sabe que comer uma caixa de bombom toda vez que ficar se bestificando na frente do celular é um pouco demais. Seu filho sabe que fumar maconha todo dia durante anos não é exatamente o consumo mais inteligente que se pode fazer. Seu tio sabe que ter fumado três maços de cigarro por dia durante anos não foi a opção mais inteligente a ser feita, mesmo sendo ele um sujeito apequenado de inteligência. Seu cunhado sabe que comer torresmo peludo no café da manhã, coberto de catchup, mesmo que acompanhado de café com leite não é exatamente uma opção que vai deixar o fígado dele supimpa. Sua sobrinha sabe que colocar meia lata de leite condensado de sobremesa como recheio no pão não é alguma coisa que fará com que ela se saia melhor na prova de matemática para a qual ela não se preparou nada, nada. Sua tia-velha continua preferindo ir à casa de bingo quase todo dia (todo dia seria melhor), logo no comecinho da noite do que tentar ficar na cama e dar um sossego para a ansiedade. Sem falar na rechonchuda do departamento financeiro que parece ter nascido com um pacote de salgadinho nas mãos, daqueles bem oleosos, vai boa parte da miséria que ela recebe a título de salário só para comprá-los. E, pobre das mãos da esquelética assistente da controladoria, que, se a rechonchuda do departamento financeiro prefere salgadinhos, ela prefere mesmo as próprias unhas.

Nenhum deles tem assim tanta preocupação com as providências que deveriam tomar – substituindo um hábito ruim e prejudicial por um menos danoso à saúde. Nada que uma ida à drogaria não resolva. Nada que a compra de um remédio não resolva. Nada que uma caixa de ansiolíticos não resolva. Nada que uma caixa de anti-depressivo não resolva. Nada que um remédio para esteatose hepática não resolva. Nada que impeça cada um de continuar fazendo o que sempre fez e que nunca fez o que deveria fazer.

Por isso, um de nossos pesquisadores, versado em questões econômicas, sugeriu que, na fachada comercial, fosse definitivamente tirado o nome Drogaria e que ficasse apenas Perfumaria.