Quando alguém se olha no espelho, quem está vendo quem? Nossos pesquisadores são gente séria, então, não merecem risonho irônico por um aforismo que soa como idiota. Ora, ora! Quem vê é o olho de quem está vendo, e o que está sendo visto é a imagem refletida de quem está vendo! Poderia haver certeza mais certa do que esta? O que esperam esses pesquisadores da Fundação Canis & Circensis? Nem isso eles conseguem ver, o óbvio?

Nossos pesquisadores não são exatamente especialistas em mergulho de profundidade em aquário de sala de estar, por isso, as colocações que eles fazem não são muitas vezes familiares a betas, neons e acarás-bandeira. Chegaram mesmo a acusar nossos pesquisadores de sofrer da síndrome da Rainha Má, que envenenou a bela Branca de Neve pelo único pecado de ser esta mais bela do que aquela. Mas, perguntaram-se nossos pesquisadores: o que quereria a Rainha Má diante do espelho? Uma crítica? Vaias? Um apupo? Tomate? Ovos? Sapatada? Xingamento? Receber uma informação desanimadora? Saber que a Branca de Neve era mais bela do que ela? Concordar com essa informação desabonadora? Quem é ele, espelho, para se atrever a criticar uma Rainha?! Aliás, Rainha, Rei, princípe, nobre, plebeu, jogador de futebol, político, síndico de prédio, vendedor de feira, biscate, apontador de jogo do bicho, treinador de papagaio, flanelinha, estudante mais que repetente, funcionário público fantasma, voluntário de programa de teste de um novo e revolucionário supositório, cantor de churrascaria, advogado de porta de cadeia, sonegadores diversos, artista em decadência, profeta que clama no deserto, escritor sem livro, intelectual falastrão, ditador. Toda essa gente é gente humana e humanamente preferem todos um afago do que uma cusparada na cara. (Por comodidade de pesquisa, excluímos os masoquistas que ainda permanecem no armário e os auto flageladores punitivos.)

Nossos pesquisadores especularam que o espelho não passa de um estraga-prazeres, um mal-amado, um perdedor, um conspirador contra a autoestima de cada um, incapaz de reconhecer a grandeza de quem está bem à sua frente. Não seria o caso de se eliminar todos os espelhos do mundo imediatamente para que enfim o ser humano possa fazer o que faz de melhor, elogiar(se)?