De tempos em tempos, nossos pesquisadores constataram que os homens recorrem à vida animal destacando as características que interessam ser destacadas em um determinado momento por quem as está destacando.
Então, destaca-se da vida animal de início a vida animal ela própria, natural e sem as maluquices humanas. No caso de ser necessário particularizar essa ou aquela característica, destacava-se a fofura do coelho, a graça do nado do golfinho. Mas, nossos pesquisadores observaram que uma característica particularmente destacável é a habilidade animal para caçar. Aí, dependendo de quem está destacando, destaca-se como caçador o leão, a chita, o falcão, a águia, o tigre, o tubarão, a orca, o urso. Mas, por que caça “essa gente”? Fundamentalmente para matar a fome, encher o bucho (tem outras características que poderão ser abordadas, em outros Aforismos). Para matar a fome, a bestialidade do animal toma conta da quase totalidade da sua vida (a dele) – a outra parte é a procriação, mas o animal gasta muito mais tempo comendo do que … comendo, o que prova que o estômago é mais importante do que o sexo.
Transplantando essa condição (e nessas condições) para a vida humana, o que dizer daquela vida humana que vive para comer?
Ao que se saiba, os animais também tem sua sofisticação simbólica, que permite que seja possível a vida no grupo dos animais: sons, sinais, gestos, comportamentos diversos, nada comparável à sofisticação do neocórtex humano – ainda que muita gente discorde.
Sem entrar nesse mérito aqui, nossos pesquisadores acreditam que se o homem se comportar como se comportava seu antepassado, que tinha um dia-a-dia basicamente dedicado a sair em busca de comida, que, aliás, só seria obtida se a caça fosse bem sucedida (a comida rápida e pronta demoraria muitos milênios para ser desenvolvida), e se ele homem não se tornasse a comida da sua caça (o que acontecia com frequência), que homem seria esse?
Nossa pesquisa queria entender por que o homem moderno, que tem comida à disposição o tempo inteiro, em qualquer esquina, a qualquer hora, come como se a comida fosse aquela comida do homem primitivo, que podia acontecer hoje, ou sabe-se lá quando outra vez!
Foi uma das discussões mais interessantes que tivemos, durante horas, em que foram servidos quitutes diversos, bolachas intermináveis, café, chá e bolos saborosíssimos.
Reprodução permitida, desde que citada a fonte. Caso contrário vamos soltar os cachorros em cima do infrator. ;-)
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