De uns tempos para cá, a comunicação popular foi inundada com uma frase que chamou a atenção dos nossos pesquisadores pela prepotência implícita. A frase é: “simples assim”. Assim, e diante de problemas com os mais diversos níveis de complexidade, dizia-se despudoradamente “simples assim”, assim, sem mais aquela. Com a maior desfaçatez, passou a ser “simples assim” entender de física quântica (mesmo que os próprios físicos quânticos sejam os primeiros a não se entender sobre o tema) e principalmente entender como marqueteiros e administradores conseguem enquadrar nas suas teorias o que é inenquadrável em lugar nenhum. Passou a ser “simples assim” entender por que o homem nunca passará de um quadrúpede metido a bípede, mesmo sendo filho de Deus. Passou a ser “simples assim” entender por que os ricos roubam o Estado, de acordo com o príncipio de que ladrão que rouba ladrão tem 100 anos de perdão, e quando é a vez dos pobres roubar, isso é coisa de gente safada, sem-vergonha e aproveitadora. Passou a ser “simples assim” entender que não há alternativa para resolver todos os problemas que o homem cria incessantemente por que, para haver alternativa, é necessário que o homem seja “alter”, quer dizer, outro, e como ele, o homem, não abre mão de ser o que é (alegando não existir alternativa melhor do que continuar sendo ele mesmo), não haveria alternativa para resolver os problemas, que continurão assim sem solução. Passou a ser “simples assim” entender todo e qualquer mistério, a começar dele próprio, o mistério, que perdeu toda sua graça e profundidade sob a luz dos holofotes e sob a ação de coachs.
Tanta “simplicidade” chamou a atenção de nossos pesquisadores. Um deles especulou se essa “simplicidade” não parecia comida tipo papinha de nenê, dada para alimentar estômagos delicados, despreparados para processar um filé de brontosauro ou uma buchada de bode com mandioca. Outro de nossos pesquisadores, na onda da papinha de nenê, disse que talvez falte a nós homens olhos que um dia tivemos, crianças que tristemente deixamos de ser.
Quem criou tudo isso bem que poderia ter sido mais modesto, não?
Reprodução permitida, desde que citada a fonte. Caso contrário vamos soltar os cachorros em cima do infrator. ;-)
Canis Circensis – Copyright 2024 – Políticas de Privacidade