Já estamos sentindo os ovos e tomates arremessados contra nós. Sem contar as vaias e as desairosas referências às nossas queridas mamães. Porque, além da dificuldade de tematizar qualquer coisa quando o assunto somos nós, a coisa ainda piora quando esse “nós” é colocado como amigo ou inimigo! Encrenca na certa!

E, como sempre, leitor, nossa idéia era a mais cândida e singela possível. Acompanhe. Partiram nossos pesquisadores da idéia de que ninguém faz nada sozinho, começando-se de si próprio, quer dizer, ninguém se constrói sozinho; a idéia de que o eu está mais para a arquibacanda do que para o setor das cadeiras cativas de um estádio de futebol. Para você ter uma idéia da encrenca, quando fizemos a colocação acima, ainda em nível experimental, só faltaram nos matar! Como assim, para eu me constituir eu preciso do meu amigo-traíra do escritório? Daquela despudorada da Guiomar, que já andou com todo mundo (menos com quem está reclamando!)? Já fizemos esse teste várias vezes, e não entra na cabeça das pessoas, mas nem com reza canina das bravas, nem com uivos alucinantes, que somos o que fazemos para ser o que somos e que tem duas maneiras básicas de fazer isso: contando com o apoio dos amigos e o apoio dos inimigos. Apoio dos inimigos?! Pronto: mais ovos e tomates! Mais uma vez, nossos pesquisadores partem de uma constatação óbvia: amigo tende a aliviar as críticas, a dar colinho, a soprar o machucado quando a gente cai no chão; já os inimigos, esses não aliviam; é tipo time adversário no futebol: como eles também querem ganhar, vão exigir de nós o nosso melhor, que a gente se supere para não ser superado. Quer saber outra coisa que nós, os Canis&Circensis, não entendemos? Essa gente que nos critica não considera que, ao nos referirmos ao inimigo, estamos nos referindo a toda aquela situação que essa gente gosta, a questão do herói, que só vai mostrar que mesmo herói de verdade quando não apenas for submetido a duras provas, mas quando superá-las, não se deixar abater por elas. Então, é só fazer um pequeno esforço intelectual para aproximar as duas situações: não são as dificuldades que farão um herói? Os inimigos vão desempenhar o mesmo papel!

Portanto: longa vida aos nosso inimigos!