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Ser brasileiro já é um grande problema cívico,
mas é uma tragédia quando se transforma em estado de espírito

Nossos impolutos pesquisadores têm as mais diversas origens, ascendências, e – por que não dizer? – as mais diversas genéticas. Honestos que são, reconhecem o papel fundamental da herança que forma cada um de nós, mas – e sempre tem pelo menos um mas! – certo dia começaram com uma conversa que fez subir os ânimos de todos: em que medida a origem justifica as posições que cada um adota e suas opiniões?

Além de terem as mais diversas origens, têm eles diversas nacionalidades. Então, para não ampliar excessivamente o campo de análise, perguntaram-se: se uma mesma questão fosse respondida por duas pessoas de nacionalidades diferentes, a resposta seria a mesma? Por exemplo: como brasileiros e argentinos responderiam à pergunta: os melhores jogadores de futebol do mundo são os brasileiros ou os argentinos? Em outras palavras: a nacionalidade seria um viés que comprometeria a necessária e imprescindível objetividade científica?

Uma de nossas pesquisadoras (ela tem olhos puxados) reclamou da expressão “tem japonês no samba”, lembrando que a expressão queria dizer que o samba estava desafinado. Para provar que essa verdade está ficando no passado, ela afastou a cadeira e exibiu para os atônitos colegas uma ginga digna de uma mulata carioca. E, provocativa, perguntou: “Quem disse que samba não se aprende no colégio?”. E teve que ouvir a resposta: “Ninguém mais, ninguém menos que Monarco da Portela – tá bom? Ele disse que aprendeu com Noel Rosa e Cartola” – respondeu um pesquisador, por sinal, um brasileiro iracundo.

Ela não se deu por vencida: “Pois ele teria que mudar de opinião diante do fato que a minha ginga pode ser aprendida, como eu aprendi! DNA (ela é bióloga) ajuda a explicar, mas não é “a” (enfatizado no tom de voz) explicação determinante, nem definitiva. Se o Monarco da Portela aprendeu com Noel Rosa e Cartola, ele aprendeu com a tradição, com o ambiente, com a cultura. E eu aprendi com quem aprendeu com esses e outros tantos sambistas”.

Provocativa, ela convidou o pesquisador a dançar um samba com ela.

Consta que, depois da dança, ela teve que ser atendida no postinho médico da Fundação Canis & Circensis, para tratar de hematomas nas pernas, reclamando também dos pisões nos pés que recebeu do desajeitado brasileiríssimo.

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