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Ser humano sem data de validade é uma monstruosidade

Dentre as muitas pretensões que caracterizam a loucura humana, talvez a principal delas seja a da imortalidade. Tão cioso de si próprio; tão enamorado de si mesmo; tendo sua vida em tão alta conta; achando-se o zênite da evolução; achando-se o pináculo da existência; considerando-se o ponto máximo que a vida poderia atingir; considerando-se tão imprescindível e rigorosamente insubstituível; vendo-se como a última bolacha do pacote, o ser humano se pergunta: como teria sido possível existir vida antes de eu existir? E depois de eu partir, existirá vida? Como chamar de vida aquilo que não me inclui?

Na verdade, nossos pesquisadores estavam tentando entender se haveria alguém que não gostaria de ficar para todo o sempre, ou se gostaria de ficar para semente. Para elucidar esta questão, pensaram em recorrer a dois profissionais específicos, que pareceram a eles especialistas neste tipo de desvio: aqueles ligados à religião e os outros, ligados à psicologia. (Quanto aos que gostariam de ficar para semente, poderíamos consultar biólogos, plantadores, agricultores, hortelões e assemelhados, mas essa linha de pesquisa não prosperou: verificamos que a turma quer é ser imortal mesmo. Ponto.)

Da gente ligada à área da psicologia, gostariam nossos pesquisadores de entender se a egolatria seria uma questão narcísica, ou se o narcisismo seria uma questão ególatra (do maluco ou do maluco que o analisa).

Da gente ligada à religião, gostariam eles de entender se a onipresença, a onipotência e a onisciência não seriam características únicas e exclusivas do Pai, ou se os filhos poderiam portar as essas mesmas características, se não estivessem rolando ladeira abaixo em uma queda que parece não ter fim. Se quem sai aos seus não degenera, tal pai, tais filhos, certo?

Mas, consultando a literatura antiga sobre o tema, nossos pesquisadores constataram um fato que na verdade já haviam intuído quando do início da pesquisa: desde que o primeiro homem foi capaz de pensar (não discutiremos aqui se este fato é verdadeiro), a primeira coisa em que ele pensou foi em si próprio. O restante em que ele pensou você pode reler no primeiro parágrafo.

Até hoje, nossos pesquisadores estão procurando saber: se a vida é eterna, o mesmo deveria valer para os viventes?

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