De uns tempos para cá nossos pesquisadores notaram que essa questão da verdade assumiu assim situações absolutamente fora de controle: tudo é verdade, tudo deve ser feito em nome da verdade e se não for assim, coitado do mentiroso que estaria falando contra ela.
Nossos pesquisadores estavam querendo esmiuçar a questão da verdade ao longo do tempo da história e perceberam com relativa facilidade que essa questão estava sempre presente, mas, assim, não é?, estava presente tipo mais ou menos. Foi por isso que um de nossos pesquisadores, exímio dançarino, disse que ela-a-verdade parece assim aquela mulher com quem ninguém quer dançar, uma dançarina meio estranhosa, pisa no seu pé, bate na sua canela, dá joelhada, não sabe beijar direito, não usa o perfume mais sedutor, na hora da dança não sabe o que falar, não tem a conversa adequada. Se fosse uma daquelas dançarinas de salão, coitada, mal iria conseguir fazer um ou dois furinhos no seu cartão de dança, não faria dinheiro nenhum, ficaria mais sentada do que na pista.
Nossos pesquisadores estavam tentando entender porque motivo as pessoas não param de falar de uma coisa com a qual elas não querem ter contato nenhum. Da qual querem distância. E, nesse caso, com razão. Você, nosso leitor contumaz, sabe que nós não aliviamos quando nos parece ser o caso de baixar o porrete, não raro no lombo da turma do fundão. Agora, quando é o caso de reconhecer que eles estão certos, ou mais certos do que errados, nós reconhecemos. Por que o sujeito, depois de uma semana daquelas de trampo, aguentando o colega-traíra e o chefe, indo ao bailão, vai se enroscar com uma dama pra lá de problemática, pra lá de pretensiosa, pra lá de diz-que-me-disse, e dançar direito que é bom, nada?
E a situação é a mesma se o sujeito, mais sofisticado, pretender dançar uma valsa – e olha que valsa é uma dança quadradinha – mas, mesmo nesse caso, a parceira-verdade não acerta o passo, eita dificuldade!
Imagina então se a dança for dessas mais modernas, sacolejo pra todo lado, perna pra cima, pra baixo, perna no meio das pernas, rodopios no ar, malabarismos de deixar a gente tonto – parece que só para entortar a coluna da verdade, pra humilhar mesmo – tadinha da empertigada!
Reprodução permitida, desde que citada a fonte. Caso contrário vamos soltar os cachorros em cima do infrator. ;-)
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