Antes de mais confusão e problema para o nosso lado (coisas que não nos faltam), esclarecemos logo de início que não estamos nos referindo, nesse Aforismo, a uma das mais terríveis chagas da humanidade, a escravização de um ser humano pelo outro, à situação em que um ser humano, por achar-se superior, acha que um inferior a ele ainda tem que agradecer estar sendo escravizado por quem irá tirá-lo da situação em que se encontra, e se esse não souber entender por bem estão aí os açoites, o chicote, o pelourinho.

Nesse Aforismo, a discussão é mais sutil. Aqui estamos estudando a situação daqueles muitos que não aceitam a hipótese e a possibilidade de não estarem certos, de que suas idéias não estejam certas, e que, por isso, não perdem uma oportunidade para mostrar a superioridade das suas ideias. Além disso, ou justamente para isso, são não raro pessoas que se alinham ao que existe de mais dominador exteriormente, fiéis seguidores de tudo que seu-mestre-mandar. Por acaso, o seu amigo-traíra não é exatamente assim? Olhos e ouvidos do chefe e para o chefe, ao qual é mais submisso que barata, enquanto tenta convencer tudo mundo no escritório de que suas idéias são insuperáveis, resultado não apenas de um enorme esforço intelectual, mas também fruto de merecimento, porque, se ele chegou às conclusões a que chegou foi porque fez por merecer receber ensinamentos reservados a quem baixa a cabeça mais que corcunda.

Então, à primeira vista, estamos diante de uma situação que é a melhor dos dois mundos. O colega-traíra é todo gentileza para quem está acima dele e, em relação a quem está ao lado, bem sua atitude vai depender justamente de quem está ao seu lado: se for arrogante vai receber tratamento de paredão de tênis: bateu pesado na bola, vai receber de volta uma bola igualmente pesada. Se for daqueles colegas que têm medo de tudo, a começar da própria sombra, que têm dúvida de tudo, inseguros que só, bem esses desinfelizes são o público ideal para o seu humilde amigo-traíra exercer seu despotismo escravocrata: esses vão ouvir de tudo, até dizer chega.

Vejam só: humilde diante o poderoso, soberbo perante o humilde.

De olho nessa gente, prezado leitor.