Nossos pesquisadores estavam interessados em entender mais a fundo uma questão que sempre nos enviam, para que aprofundemos: se o homem vive sob uma monarquia, ele é súdito de um rei ou de uma rainha – até aqui, tudo bem. Inclusive, nossos pesquisadores especializados em história nos informaram que, desde que o mundo passou a se organizar, essa organização não foi nada democrática: tinha sempre um metido à besta dizendo-se a última bolacha do pacote, o super rei da cocada preta, o filho dileto do pai. Em outras palavras: sempre tinha alguém mandando e quase todo o resto obedecendo. Mas para que isso funcionasse a contento, não seria possível que eles reconhecessem que a organização eles estavam fazendo para se beneficiar, para enriquecer – daria muito na cara. A saída seria arrumar uma daquelas justificativas tipo tirar tudo do sujeito dizendo que assim está incentivando sua autodeterminação. Leitor, cá entre nós: o melhor dos mundos: uma justificativa que justifica de forma justificável a injustificável usurpação de poder, com o plus-a-mais-adicional de que os espoliados estão sendo na verdade beneficiados – e que, se criticarem, estarão sendo ingratos.
Mas, voltando à monarquia. Súdito que é súdito obedece. Ora, ora, onde já se viu súdito com iniciativa própria?! Que vá lá reinar no seu reininho de quinta categoria! Sem falar que, para ser rei ou monarca, é preciso entrar na fila de sucessão, e a última senha distriuída foi a de um ordinal que supera o cardinal 8 milhões.
Então, súdito que é súdito obedece – como dissemos. Nesse ponto da análise, um pesquisador especializado em comportamentos distópicos e desparafusados do comportamento humano, observou que a prática tende a conduzir a excelência. Quer dizer, mesmo que o desparafusado não tenha vocação, muito menos fígado para ficar obedecendo o tempo inteiro, as evidências demonstram que obedecer durante muito tempo faz o sujeito virar objeto da sua repetição, tornando-se assim um sujeito, ou melhor, um objeto altamente obediente.
Ok – responderam alguns outros pesquisadores. Mas e com o declínio das monarquias mundo afora, o que faria com que o sujeito-já-objeto continuasse sendo obediente, mesmo sem ter a quem ser obediente?
Nesse momento, interveio no diálogo um de nossos pesquisadores, especializado em teatro político, que disse: “Muito simples, é só dar um banho de verniz de democracia na monarquia que a obediência continuará garantida” – concorda, leitor?
Reprodução permitida, desde que citada a fonte. Caso contrário vamos soltar os cachorros em cima do infrator. ;-)
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