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O capital é a própria resiliência

Nossos leitores têm idades e formações diversas – assim, alguns terão dificuldade em entender inicialmente o termo resiliência, que, como qualquer moda, incluindo a língua, ora é de um jeito, ora é de outro, dependendo de diversas fatores e interesses. Para os mais experientes, resiliência era um termo e um conceito que não existiam, diferentemente dos jovens, submetidos que são a uma enxurrada de resiliências, nos tempos atuais.

Por que a mudança? – era isso que nosso time de pesquisadores queria entender. O pano de fundo para a reflexão deles era a relação entre o que o homem vive e o que o homem diz, suas formas de expressão e convivência. Assim, perguntaram-se eles: por que mais recentemente passou-se a usar a ideia de resiliência e, mais, exigir-se que ela fosse uma condição necessária para se viver modernamente? Em outras palavras: por que a propriedade de retornar à forma original (leia-se: resiliência), mesmo depois de ter sido submetido a um impacto ou stress, mais que uma propriedade física, passou a ser considerada a condição que caracterizaria as pessoas bem sucedidas e vitoriosas? Pessoas que aceitariam o que a vida lhes trouxesse, sem contestar, sem questionar, sem dar um pio sequer? Não importa se o impacto causado tivesse origem econômica, política, social, pessoal, familiar. Não importa se o governo confiscou o dinheiro; não importa se prejudicou a aposentadoria; não importa se os governantes roubem cada vez mais o cada vez menos que temos; não importa se sua mulher te trocou pelo seu colega de trabalho, aquele mesmo que foi promovido no seu lugar, injustamente; não importa se o seu irmão ficou com a maior parte da herança do seu pai, por conta de um truque do contador da família – nada disso importa.

Não importa a força do soco, da facada, do chute, do empurrão. – o que importa é que, mesmo atingido, o corpo, o caráter, a vida da pessoa sentiriam o golpe como o couro do rinoceronte sente uma pluma.

Chocados com o que iam descobrindo, nossos pesquisadores perguntaram-se se haveria na vida social alguma instituição, algum fato que se mostraria tão nobre, tão impassível, tão inatingível, tão soberano, a ponto de voltar a ser o que era antes de ter sido atingido por alguma circunstância da vida.

Ao que um dos nossos respondeu: “Tem sim: o capital”.

Ao que outro dos nossos respondeu: “Não exatamente, porque o capital não volta a ser o que era antes de ter sido atingido, mas volta provavelmente maior e ampliado para as mãos de quem sempre o manipulou em causa própria”.

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