Anterior
Próximo

Ético com C maiúsculo

De uns tempos para cá, o tema da ética entrou com tudo na cultura do dia a dia. E, observe que não estamos falando daquela ética pequenina que atende pelo amistoso e inofensivo nome de etiqueta, que ensina, por exemplo, que não se deve tirar meleca do nariz em meio a uma reunião de diretoria, que se deve curvar a coluna a tantos graus para cumprimentar um rei ou rainha, que não se pode arrotar na mesa do jantar, e coisas como essas. Não: estamos falando aqui “daquela” ética, aquela que diz respeito ao comportamento das pessoas em sociedade, que permite que elas sobrevivem estando juntas, que faz com que cada membro de uma comunidade desempenhe um papel a bem de todos.

Assim, a ética deixou a exclusividade dos ambientes acadêmicos, onde desfrutava de um prestígio digamos rarefeito (como a própria ética, vista academicamente), e passou a frequentar a feira, o boteco da esquina, as academias de ginástica, estádios de futebol, campeonatos de biriba, disputas de par ou ímpar, competições de bolinha de gude e pistas de bocha.

Mas, especularam nossos pesquisadores: por que tanto interesse pela ética? Seria por dinheiro? Seria por que o que deveria estar presente na verdade está ausente? Mas, se a ética está diretamente relacionada com a vida em comunidade, e as comunidades continuam existindo, como a ética poderia estar ausente? Nossos pesquisadores arriscaram uma hipótese inicial: se até o povão está discutindo ética, quer dizer, se até o povão está discutindo se político pode se beneficiar de um dinheiro que não é dele; se qualquer um pode estacionar o carro em fila dupla sem ser multado; se funcionário público pode se beneficiar indevidamente do cargo; se parente (além de ser serpente) não precisa pegar fila de atendimento; se está certo ter cotas para toda particularidade, da cor da pele à opção sexual – então é porque as pessoas não estão mais dispostas a tolerar essas coisas todas, que, afinal, sempre existiram.

Quando a ética que dá vida a uma comunidade começa a ser questionada, o que acontece? Bem, o que acontece só o tempo pode dizer (e nossos pesquisadores não têm bola de cristal), mas, de uma coisa nossos pesquisadores têm certeza: quando a ética entra em crise, as pessoas passam a se comportar como se, antes da palavra ética, existisse a letra “c”. Aí, com uma nova palavra, um novo comportamento e, aí, “aquela” ética já não existe mais.

Uma resposta

Deixe um comentário para MARIA APARECIDA DA SILVA ABRANCHES Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

plugins premium WordPress